quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Tudo que eu gosto (1)

... É ilegal.

Não que a ilegalidade seja requisito essencial, de todos é talvez o mais incidental. Não há um gosto particular encontrado na violação da lei, de fazer o errado, mas a incoerência e tirania com que ela pode nos tratar acaba levando ao sentimento rebelde de fazer o que queremos, de transgredir, de sermos livres.

A sociedade de direito é por si opressora, existe para nos impor limites. Muitas vezes esquecemos a finalidade desses limites, que é a convivência pacífica, a ponderação de interesses, a delimitação dos direitos individuais e os da coletividade. Com a imposição técnica que assume o meio jurídico e a elitização do conhecimento legal, é espalhada a aceitação pura e simples do direito como fim em si mesmo, como verdade pré existente, como um pai ou uma mãe soberanos a nos dizer o que é certo e o que é errado.

Isso nos leva a, inconscientemente, seguirmos nossas vidas aceitando a conduta imposta pelo direito sem questionar, sem perceber que ela nos impede de ser quem nós somos, de fazer o que queremos, como queremos, na hora que queremos... Por que? Por que devemos aceitar cegamente a tirania legal quando ela nos oprime sem razão ou por puro abuso de autoridade?

Essas reflexões quando aprofundadas podem despertar um perigoso (e delicioso) sentimento de anarquismo, mas não é essa minha finalidade. Eu quero apenas mostrar que o freio social, a lei e a parafernália estatal que se coloca a seu serviço, impede que a gente faça o que a gente gosta.

Eu não bebo e dirijo porque quero ir contra o sistema, ou mesmo pra causar um acidente. Eu gosto de beber... E tenho que dirigir. Eu não fumo maconha porque quero desafiar a lei e o estado, eu fumo porque gosto. Eu não fumo cigarro num ambiente fechado porque quero incomodar as pessoas, eu fumo porque gosto de fumar. OBS: “Eu” aí quer dizer “você”, óbvio. Eu sou política e legalmente correta. Eu sou a voz da razão.

Mas percebo que muito do que você gosta, muitos dos pequenos prazeres que a vida oferece e que você, enquanto vivente, vai querer aproveitar, são proibidos. E ainda que não seja o gostinho da rebeldia, da transgressão, é o próprio prazer de viver e da liberdade que vão te seduzir, te levar para o caminho da ilegalidade e talvez fazer de você um criminoso.

A pergunta é: vale a pena resistir?

18 comentários:

Ju Marques disse...

Eu acho que vale!

Chan. disse...

Em nome de valores alheios numa vida que é curta?

Pode ser que valha.

Carol disse...

Acho que vc pode fazer o que quiser contando que não invada o espaço do outro. Beber e dirigir por exemplo, vc pode beber, pegar seu carro e chegar em sua casa ou vc pode beber, pegar seu carro e matar alguem por ai. Vc n tem controle sobre isso, e a vida é feita de limites, senão td era mais caus do que já é. A lei tem um motivo coletivo, a transgressão tem um motivo pessoal, e motivos pessoais não levam a sociedade a lugar nenhum.

Chan. disse...

Faz parte do sentido da vida levar a sociedade a algum lugar?

Pode ser que faça.

Blake disse...

Acho que todo mundo tem que colaborar com a sociedade, a não ser que vc queria morrer mais cedo do que devia já que sem sociedade o caus se instala então o sentido da sua vida vai ser só um: se manter vivo.

Rodrigo Feitosa disse...

Carol e Blake traduziram com perfeição meus pensamentos.

Grato!

Chan. disse...

Carol = Blake

Ela comenta com vários perfis pra embasar a opinião :P

Pensamentos fáceis...

Blake disse...

eu não comento com vários perfis, é que as vezes eu lembro a senha do google e outra não...

Rob disse...

Bem, acho que a questão toda é pensar, vale o risco? O pior não é fazer, mas se fazer de vítima. Se o personagem da situação dirije após beber e, acidentalmente, causa algum acidente, deveria aceitar as consequências disso. Se isso não é possível ou provável, acho que inverto sua pergunta de conclusão: vale a pena infringir?
E quanto a questões como maconha, que é considerada ilegal por fazer mal ao próprio usuário, não acho que valha como argumento de justificativa o absurdo disso, levando-se em conta que danos muito maiores ou equivalentes a si mesmo são permitidos. A unica coisa contra isso é a tentativa de mudar a legislação. Enquanto isso, a questão é: vale a pena ceder a um desejo momentâneo que pode te privar de diversos ou todos os outros prazeres futuros?
Eu acho que não convêm fazer escolhas que limitem nossas opções futuras. Apesar de a incriminação não ser certa, afinal pode-se fumar maconha ou atropelar alguém e sair ileso, a consequência, se vier, limita sua vida de forma irrefutável.
Em suma, a questão toda sobre tudo isso é um foco que acho um tanto disfuncional. Acho que existe sim a opção de fazer uma outra pergunta. Dentro das opções legítimas (e a oferta é grande), o que posso fazer para me dar prazer? Se a resposta não vier à mente, é hora de uma terapia.

Chan. disse...

Como diria o saudoso Victor Castro: "sou à favor da liberdade".

Especialmente a de escolha.

Rodrigo Feitosa disse...

Os pensamentos são fáceis, realmente, as conclusões mais ainda.

As inconsequência da liberdade de escolha defendida pelos muitos inconsequentes consumidores de drogas que ajudam a matar crianças da favela, e dos motoristas bêbados são tão óbvias quanto estas conclusões.

De resto me parece puro egoísmo

Chan. disse...

Nem sempre o óbvio é fácil, pelo contrário, muitas vezes é ele que surpreende (como já filosofei em mesa de bar).

Não consigo ver muito altruísmo em repetir os clichês. Apenas preguiça.

OBS: Engraçado, eu comecei pelo "ilegal" achando que ia ser o menos polêmico, hehe. Mas continuo cutucando ;)

Rodrigo Feitosa disse...

O "clichê" pode vir do sensno comum, da lavagem cerebral diária ou no meu caso: Eu realmente acredito nesta bagaça.

Não tenho nenhum pensamento complexo pra te apresentar, nenhuma idéia mirabolante, nenhumconceito surreal.

Apenas MINHA sincera e honesta opinião. Nem eu, nem ninguém deve pagar pela inconsequência alheia, em cima de decisões tão pequenas.

beber ou dirigir, eis a questão!

A propósito, a grande maioria das pessoas bebe sem apreciar o gosto das bebidas, apenas pela sensação hébria em si, para socializar, não ficar de fora. Isso sim me parece, clichê; comportamento de rebanho, por assim dizer.

"Liberdade" também é um clichê. Mas que não sai de moda nunca. Assim como o conceito de ajudar o próximo. Ou nesse caso, não ferrar o próximo.

Espero que exerçam toda a sua liberdade, mas que me deem a sorte de nas suas aventuras hébrias não esbarrarem em mim, ao invés de encontrar um poste.

Embora eu não deseje nem uma coisa nem outra.

Perdoe o meu pensamento "clichê", ando de moto. Já vi coisas terríveis causadas pela bebida tanto em motoristas quanto em motociclistas. O senso comum, às vezes pode vir do bom senso. E a revolução, pode ser pura e simples rebeldia e eu já passei dessa fase.

Bjo

Blake disse...

Acho que nunca entrei na fase de rebeldia, sempre fui um eterno clichê! Vamos fazer o máximo para nos mantermos vivos, é o que eu penso.

ininterrupto disse...

Acho um absurdo fumar maconha e dirigir bêbado. Se o estado existe e determina as leis em prol dos interesses exclusivos minoritários, as condutas devem ser naturalmente aceitáveis e inquestionáveis!

Jamais propor mudanças e revisões!

Até porque maconha e bebida e carro são os únicos exemplos que o texto poderia abordar! Viva a Lei! viva a moral! Isso que é uma verdadeira civilização inteligente: A constância dos costumes!

Rodrigo Feitosa disse...

acredito que essa questão ultrapassa a lei.

Vai além do legal e atinge a MORAL.

A minha pode não significar nada a vc, mas enfim..... significa muito a minha família que eu chegue em casa inteiro.

Assim como não devo deixar de sair por conta da maioria bebum que me cerca.

Essa lei não é em prol da minoria e sim da vida de todos. Infelizmente as vezes o estado precisa proteger os incapazes de suas próprias tolices dando-lhes limites.

Quanto a questão da maconha, pode sim, haver uma revisão. Não me incomodo com os usuários não, apenas com os efeitos sociais colaterais que ela causa. Sou contras a morte de pessoas por conta do tráfico. Se a legalização trouxer uma nova luz, então que venha!

Anônimo disse...

Eu bebo, eu dirijo, eu fumo maconha e eu NÃO voto

faço minha parte para uma sociedade melhor, tenho ABSOLUTA certeza

Não agrido ninguém, não atiro em ninguém, não compro arma para assaltante finjir que briga com polciais, não brigo no trânsito, sonego meus impostos pelo bem dos pobres, não dou esmolas, mas compro ração para os gatos de minha rua e tento ajudar uma família carente da zona rural com uma renda melhor que a de lula.

A sociedade só depende dessas leis falas para seguir alguns interesses egoístas, egoísta de uma forma que um bêbado ou um "maconheiro" jamais será.

Eu não vou mais assumir culpas que não são minhas, estradas estragadas, 40% do meu salário anual pra levar puta pra frança e eu achando bonito uma bliz cobrando cervejinha pra passar na tv

acredite quem quiser, todos temos direito disso, Papai Noel, Jesus Cristo, Jeová, Alah, Lobisomem
todos podemos ter nossos amigos e valores imaginários

Estou anônimo pois algum policial pode ver isso e querer me foder, faço a minha parte sozinho e como minoria não posso nem quero luta armada com ninguém, afinal coisa de matar e financiar violência é para advogados, delegados e soldados...
Não sou covarde, só não sou índio pra ser queimado aqui (sociedade bem LEGAL, viva o sistema!!!)

Rodrigo Feitosa disse...

querido anônimo.

Vc planta a maconha que fuma? se não, vc ajuda de um lado... destrói do outro.